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ENTREVISTA FABIO EMECÊ “Jovens pretos periféricos existem por mais que assustem o Brasil” - Rádio Litoral FM


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ENTREVISTA FABIO EMECÊ “Jovens pretos periféricos existem por mais que assustem o Brasil”

Foto: Divulgação

 

O professor de Literatura, músico e ativista Fábio Emecê, um dos percussores do movimento Hip-Hop na região, fez um alerta, nesta semana em que jovens da periferia lotaram a Praça da Cidadania, no principal cartão-postal da cidade, a Praia do Forte, para protestar com música e poesia contra a violência policial. A “Batalha do Forte” não foi, apenas, uma resposta a violência de policiais do 25º BPM (Região dos Lagos) semana passada contra jovens e adolescentes do Manoel Corrêa, mas um aviso aos políticos e autoridades e a todos que insistem em viver na bolha da indiferença. “Jovens pretos periféricos existem por mais que assustem o Brasil”, diz Fabio Emecê, em entrevista ao jornalista Cleber Lopes, do site da Litoral FM.
Ele também fala de intolerância e preconceito e do genocídio do povo preto da periferia. Fábio diz ser preciso acabar com o racismo e questionar profundamente o Capitalismo. Ele observa nas eleições de outubro uma possibilidade de mudar os rumos do País.
— Estamos falando de nossa existência e com o atual presidente, estamos em risco, cada vez mais visível, afirma o rapper, para quem Bolsonaro é o suprassumo do Brasil conservador e do Brasil que deve envergonhar a todos.

A entrevista:

LITORAL – Professor, escritor, músico, você é o precursor do Movimento Hip-Hop na região. Como vê as batalhas de Rap que estão atraindo multidão de jovens da periferia?

Bom, sou um dos precursores, na verdade, fiz parte de um movimento de vários jovens pretos, em sua maioria, periféricos, mas se for para dar crédito para alguém enquanto precursor, deve-se citar o Anderson Gigabyte, que é inclusive o nome de um espaço cultural ligado a Secretaria de Cultura, no Jardim Esperança.
Sobre as batalhas, é um movimento que tomou força depois 2005 e até hoje é um espaço formativo de artistas ligados a cultura Hip Hop. A multidão de hoje, especificamente, é porque hoje clipes de rap e vídeos tem visualizações absurdas nas redes da vida. Aí a periferia vê como possibilidade da arte, mas também da ascensão através da arte mesmo.

LITORAL – Essa semana o movimento  ganhou repercussão na cidade  coma ação truculenta de PMs no Manoel Corrêa. Como você viu a ação? Censura? Racismo?

O Racismo é explícito e um operativo comum da Polícia Militar. Acredito que aconteceu porque ainda é só a Polícia Militar que atua efetivamente nesses territórios. Atua no sentimento de cercear o direito de ir e partir da lógica de todos serem previamente suspeitos, há o julgamento dos policiais militares sobre aqueles sendo abordados e a execução. É um poder imensurável usado indiscriminadamente, muito porque outros braços do poder público não chegam e se chegam é de forma capenga, não inibindo os poderes da ação policial. O cerceamento do ir e vir já seria uma censura, independente do que os jovens proferissem no microfone, agora o uso excessivo da força é poder que a sociedade dá a polícia para definir quais movimentos são possíveis na periferia e quais não. Por aqui a polícia não gosta muito de arte…

LITORAL – A sociedade e a classe política estão vivendo numa bolha ao ignorar a periferia, principalmente os jovens?

A região tem um problemaço com relação ao tratamento com relação aos jovens. Quais seriam as opções de desenvolvimento artístico-cultural, intelectual, de empregos? Os jovens daqui são formados a granel para ser empregado em comércio varejista. Pelo menos os jovens de escola pública. E só por isso, já se denuncia todo o descaso para com esses jovens e consequente desenvolvimento da Região.
Agora alguém tá disposto a resolver isso? Ando desesperançoso.

LITORAL –  Você lançou um álbum chamado “Preto Velho” com quatro raps que falam de escravidão  e resistência?

O álbum é de 2018. A proposta foi falar de resistência, existência e persistência do povo preto, da nossa ancestralidade até a contemporaneidade. Entender nossa historicidade ou se propor a entendê-la faz parte da revolução.
Deixarei aqui o link para apreciação: https://soundcloud.com/fabioemece/sets/preto-velho

LITORAL – “Preto Velho” também é uma alusão as religiões de matriz africana alvo de intolerância nesses dias obscuros que vivemos?

É sim, com certeza. Na Umbanda, dia 13 de maio é o Dia do Preto Velho. E quem é esta entidade? Alguém com muita sabedoria que é “dona” do Tempo. Presente, Passado e Futuro na palma de sua mão. Também numas das consultas, me disseram que tenho um Preto Velho no ombro e aí resolvi homenageá-lo.

LITORAL – No Brasil de hoje muita ações de truculência contra o povo preto e pobre tem a aprovação de uma parcela da sociedade, que também defende uma pauta de costumes – em nome da família – que retira direitos de mulheres, índios e homossexuais. Como avalia esse comportamento? Jovens das escolas que você atua aula já refletem esses pensamentos?

O Brasil de hoje é um Brasil de formação, né? Nossa história é em cima dos abusos e corpos de pessoas pretas, indígenas, mulheres e homossexuais. Hoje existe um insuflar dessas ações porque toda a ameaça de se cortar o bolo em pedaços mais parecidos, vai se ter reações truculentas, violentas e intolerantes. A família que se tem como modelo no Brasil representa aqueles que sempre nos sugaram, as riquezas, o suor, a nossa energia, só que não somos nem perto deles e o mais importante, nem devemos ser.
Escola Pública é um caldeirão de possibilidades e impossibilidades, mas, pelo menos, onde dou aula, uma escola que atende em sua maioria, jovens periféricos, há um entendimento de que a sociedade não gosta deles do jeito que são. E aí é aquilo, uns vão querer se adequar, outros contestar. Agora ter consciência do lugar deles no Mundo é bem mais nítido do que minha época de juventude, por exemplo.

LITORAL – Os sonhos dos jovens da periferia quando você  lançou  o selo “Faixa de Gazah” mudaram daquela época para os dias de hoje?

A “Faixa de Gazah” foi um movimento coletivo de se ter uma produtora para que jovens periféricos lançassem suas músicas e seus clipes a custo zero ou quase isso. Era algo ambicioso que se descontinuou, só que acredito que sempre existirá um jovem periférico disposto a acreditar no seu sonho e reunir condições para aquilo aconteça. A periferia da região dos lagos é inventiva e vira e mexe se revela alguma coisa. Por exemplo, você conhece Tz da Coronel? É um jovem preto periférico do Morro do Limão, que hoje, é um dos rappers com mais visualizações do YouTube.
Os sonhos tão aí, mas acho que região poderia ser mais atrativa para que esses sonhos sejam realizados de maneira integral e sem impeditivos.

LITORAL – Qual a solução para acabar com o genocídio do povo preto e jovem das periferias?

A prioridade, acabar o racismo, que seria questionar profundamente o Capitalismo ou acaba-lo. Mesmo ainda não sendo possível, acabar com racismo implica além da consciência, investimento massivo na educação, na ciência, na cultura, em infraestrutura. Precisamos de um Brasil que acredite no seu povo real e queira que esse povo prospere. Ainda estamos bem distantes disso e aí o genocídio continuará em curso. Agora a branquitude brasileira gosta do povo brasileiro real?

LITORAL –  Estamos num ano eleitoral. Que Brasil você espera que saia das urnas?

Olha, as eleições de 2022, talvez seja a mais angustiante de nossa história recente na democracia. Espero que atual presidente saia e espero que ao sair, quem acredita num outro marco civilizatório, entenda que teremos muito trabalho e quem quer mudar, tem que se movimentar desde já. Estamos falando de nossa existência e com o atual presidente, estamos em risco, cada vez mais visível.

LITORAL – Na cidade partida que vivemos como construir pontes?

Fiz parte de um grupo de rap chamado Bandeira Negra durante 9 anos e ao sair, meu primeiro trabalho solo se chamou “Cidade Cenográfica” que seria uma crônica pessoal sobre Cabo Frio, a cidade em que nasci e sou um agente político. Pois bem, todo esse preambulo para dizer que nem acho Cabo Frio partida. Acho Cabo Frio cenográfica porque ela tenta passar uma impressão de civilidade e organização a partir do centro e os outros territórios seriam a extensão do centro civilizado e organizado. Tanto que as pessoas citadas com referência e relevância são desse centro. Então para mim é necessário se destruir as ripas que seguram esses cenários falsos. Quando enxergaremos a Cabo Frio real? E a resposta desta pergunta tem total relação com o futuro possível do Município

LITORAL –  Na sua opinião o governo Bolsonaro tirou o Brasil do armário?

Desde do golpe na Dilma, O Brasil que tentamos combater se evidenciou com força máxima. Um Brasil que não gosta de diversidade, nem de distribuir suas riquezas porque os herdeiros das Capitanias Hereditárias não querem. Tivemos marolas progressistas, mas o abutre sempre está a espreita em busca de carne fresca. E a carne fresca do Brasil sempre foi conservadora. Agora uma coisa é certa, O Bolsonaro é um suprassumo do Brasil conservador e aí é um dos momentos que a gente sente vergonha de ser brasileiro.

LITORAL – Qual o recado as Batalhas de Raps estão mandando para a sociedade?

Jovens periféricos, jovens pretos periféricos existem e tem condições reais de mostrar, demonstrar e revelar suas possibilidades e habilidades, no sentido prático e subjetivo. E por mais que assustem o Brasil conservador, eles, elas estão aí e continuarão fazendo e acontecendo. E as Batalhas de Rap é apenas uma possibilidade, dentro de inúmeras que essas jovens fazem, editam, reeditam, até porque do Preto Velho chegamos até eles, né? E não chegamos a toa.

LITORAL – Pra quem você manda um “salve”?

Pro meus pais, sempre, pra minha companheira Ana Paula da Silva, pro Griot e pra juventude periférica da Região dos Lagos, nossa eterna esperança.

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